sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Circo esteve pra peixe!


Foto: Aline Barbosa

O Humaitá Pra Peixe chegou à sua 16ª edição de casa nova. Tradicional vitrine do que de mais interessante está rolando na cena independente e alternativa do Brasil, o projeto, capitaneado pelo produtor Bruno Levinson, aconteceu pela primeira vez no Circo Voador com atrações para todos os gostos.

Sexta-feira, 20 de janeiro (Tono, Rubinho Jacobina & Jonas Sá e Maria Gadú)
O novo horário dos shows no Circo Voador (agora a primeira atração começa pontualmente às 23h) pegou muita gente de surpresa. Quando o Tono subiu ao palco para apresentar as excelentes músicas de seu primeiro disco, “Tono Auge”, muita gente ainda estava chegando na Lapa. O grupo, que reúne integrantes do Binário, a performática Ana Cláudia Lomelino e Bem Gil, o filho do Gilberto, ainda achou espaço no setlist para um cover do Blondie, “Heart of Glass”, e uma simpática versão em português para El Arbi, do argelino Khaled, saindo muito aplaudidos da lona da lapa.
(www.myspace.com/tonoauge)

Jonas Sá & Rubinho Jacobina tem carreiras distintas, mas se apresentaram juntos no evento. Lançando seus primeiros discos (“Anormal” e “Rubinho e Força Bruta”, respectivamente), puderam mostrar todo o experimentalismo modernoso que a galerinha descolada do Baixo Gávea tanto gosta. Acompanhados por uma banda de luxo, os dois arrancaram gargalhadas da platéia com músicas como “Artista é o caralho” e “Simone”, e as bananeiras de Jonas e sua bela calça de lycra pelo palco do Circo.
(www.myspace.com/rubinhojacobina e www.myspace.com/jonassah)

Quando a lona começou a lotar de repente, logo se viu que era chegada a hora da principal apresentação da noite. Apesar do pouco tempo de sucesso, Maria Gadú entrou no palco com status de veterana. Acompanhada de uma banda afinadíssima, a paulistana usou e abusou da bela voz para levar ao delírio o público que lotou a casa, mesmo com a chuva torrencial que caiu no Rio na noite de sexta. “Shimbalaiê”, “Bela Flor”, “Altar Particular” (em versão voz e violão) e “Laranja” (que contou com participação especial do simpático ex-Gente Inocente Leandro Leo) dividiram o setlist com as belas versões de “Lanterna dos Afogados” e “Ne Me Quitte Pas”. Se a preferência sexual da maioria das meninas presentes deixou a marmanjada chupando o dedo, uma coisa, ninguém discute: o Circo tava bonito de se ver.
(www.myspace.com/mariagadu)

Sábado, 21 de janeiro (Chorofunk, Lia Sabugosa, Wado e Ana Cañas)
O segundo dia do Humaitá pra Peixe começou com um crossover carioquíssimo. Acompanhado do grupo de chorinho Tira Poeira, o DJ Sany Pitbull criou o projeto Chorofunk, que tira dos dois estilos um resultado ao mesmo tempo refinado e dançante. Virtuoso do uso do MPC (sampler que armazena várias batidas e efeitos diferentes), Pitbull funciona no palco não só como um DJ, mas como um instrumentista a mais. Vale procurar.

Lia Sabugosa levou para a sua apresentação no festival um repertório impecável. Da belíssima “Melhor Do Que Sou”, de Lula Queiroga, à autores da nova geração carioca como Jorge Aílton e Daniel Lopes, a cantora fez um show que passeava entre momentos delicados e emocionais, onde podia mostrar a bela voz e todo o potencial da excelente banda que a acompanhava.
(http://www.myspace.com/liasabugosa)

Wado subiu ao palco do circo pra defender sua salada de eletro, reggaeton e afoxé. Lançando “Atlântico Negro”, o músico mostrou muito bom gosto em seu setlist repleto de climas e camadas sonoras. Além de “Atlântico Negro”, o cantor já lançou também “Manifesto da Arte Periférica”(2000) e “Terceiro Mundo Festivo” (2008).
(www.myspace.com/wwwado)

Se Ana Cañas tinha alguma dúvida sobre a fidelidade de seu público, o show do Circo serviu pra que isso sumisse de vez de sua cabeça. Mesmo sendo a quarta atração da noite, seu fã-clube ainda a esperava e cantou junto durante toda a apresentação. O repertório juntou as canções de seu último trabalho, “Hein?”, e de seu disco de estréia, “Amor e Caos” (2007).
(www.myspace.com/anacanas)

Domingo, 22 de janeiro (Sobrado 112, Seu Chico + Vitor Araújo, Dughettu e Marcio Local)
Primeira atração da última noite do HPP, o Sobrado 112 é trilha perfeita para os passeios pelas ladeiras de Santa Teresa. Auto-definido como um grupo de “skapolca”, O Sobrado surgiu de reuniões regadas a violão e cerveja no mesmo número da rua Benjamin Constant, na Glória, onde alguns integrantes moraram. É essa atmosfera boêmia e debochada que eles apresentaram nas divertidas músicas de seus três discos, com destaque para “Duas de Cinco” e “Grajaú”.
(www.myspace.com/sobrado112)

Seu Chico e Vitor Araújo representaram Pernambuco no festival. Foi uma excelente oportunidade para poder ver de perto o virtuoso pianista Vitor Araújo (de apenas 20 anos) em um universo mais pop. O grupo, que tem como objetivo transportar a obra de Chico Buarque das reuniões e saraus de intelectuais para as pistas de dança e noitadas, já tem um público bem fiel no Rio e soube aproveitar a oportunidade para estreitar ainda mais esse vínculo nessa passagem pela cidade maravilhosa.
(www.myspace.com/seuchico)

O duo carioca Dughettu levou o seu rap de protesto ao festival. Apesar da temática séria, o grupo soube colocar no instrumental a dose pop necessária para conquistar o público presente. Destaque para os scratches precisos do DJ Nino, vencedor do prêmio Hutus (o Oscar do hip hop nacional) em 2005.
(www.myspace.com/dughettu)

Encerrando o festival, Marcio Local trouxe seu sambalanço direto de Realengo para o palco mais democrático do Rio. Durante a apresentação, era fácil identificar algumas das influências do músico (Jorge Ben, Simonal, Bezerra da silva...) nas canções de seu novo disco, “Samba Sem Nenhum Problema”, o que ajuda a explicar a comparação do trabalho do artista a Seu Jorge, também bebedor da mesma fonte.
(www.myspace.com/marciolocal)

Depois de três dias e onze shows, o Humaitá Pra Peixe se encerrou com o dever cumprido: apresentar ao carente público carioca um pouco de novidade. Experimentalismo, Tropicália, MPB, rap, pop,... teve de tudo um pouco na salada musical do evento que, mesmo já em sua 16ª edição, ainda mostra fôlego e relevância para várias outras edições. Que sejam sempre bem-vindas. O Rio agradece.

por Leandro Ravaglia, que mergulhou nos três dias de festival tal qual um Aquaman das noites alternativas da cidade!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Orquestra Voadora e Quinteto São do Mato no Circo Voador

Começou em grande estilo a temporada de shows da Orquestra Voadora no Circo Voador. A série de apresentações vem coroar os dois anos de sucesso da Orquestra, mezzo brass band, mezzo bloco de carnaval, que se tornou um fenômeno de popularidade no Rio.

Mesmo sob forte chuva, o primeiro dos três “vôos” que o grupo fará na lona da Lapa botou todo mundo pra dançar. O show começou com a divertidíssima versão do grupo para o tema do seriado japonês Spectreman. Na sequência, Tim Maia, Mutantes, Jimi Hendrix, Fela Kuti, Dick Dale e muitos mais serviram de aperitivo para que a platéia pudesse ter uma idéia do que eles estão aprontando pro carnaval que se aproxima. O grupo volta ao Circo Voador nos dias 21 de janeiro e 4 de fevereiro, e se depender da amostra que deram na última quinta, você pode ir sem medo que a diversão está garantida.

A abertura da noite ficou a cargo do Quinteto São do Mato. Formado em Minas Gerais, o grupo (que une em seu trabalho a regionalidade da música da Zona da Mata mineira com pitadas de afrobeat, música cigana e música do leste europeu) saiu aclamado da lona do Circo em sua primeira passagem por aqui. (www.myspace.com/quintetosdm)


Na quinta-feira, dia 21 deste mês, A Orquestra Voadora volta ao Circo Voador, e recebe Abayomy Afrobeat Orquestra e o dj Brasa.

por Leandro Ravaglia, que é jornalista, escritor, produtor de eventos e não vê a hora do carnaval chegar, sabe-se lá com que intenções.