segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma mesa pelo Funk

Debate realizado no Circo Voador, nesta segunda, dia 21 de setembro, reuniu membros do governo, políticos, artistas e produtores culturais para debater o funk. Na foto acima, a partir da esquerda, o chefe da representação regional do ministério da cultura Adair Rocha, o ministro da cultura Juca Ferreira, Mc Leonardo e a secretária de cultura da prefeitura do Rio de Janeiro, Jandira Feghalli. Governo e classe artística levantando a blusa do "Eu amo baile funk", evento realizado no Circo desde 2004, que ajudou a colocar a importância do funk em discussão. Abaixo, você confere um vídeo com os melhores momentos do debate:

Clube da Luta

Sei que vão me crucificar, mas durante o show que reuniu Ratos de Porão e Gangrena Gasosa no último dia 11, no Circo Voador, só conseguia me lembrar do funk cantado por Luis Fernando Guimarães e Regina Casé que dizia:

“A gente somos coléga
É tudo gente amiga
Por isso que nós se pórra
Por isso que a gente briga”



O show do Gangrena começou cedo e eu, que também estava de fora do Circo quando a banda atacava os primeiros acordes, fui um dos que correu pra não perder a apresentação. Ícone do metal carioca dos anos 90, o grupo se tornou popular com uma improvável mistura de thrash metal e macumba. Segundo eles mesmos, a própria banda surgiu do sonho de abrir um show do Ratos no Circo. O convite para a abertura (a segunda deles para o grupo por aqui) foi prontamente aceito.

Enquanto iam misturando clássicos como “Centro do Pica-pau Amarelo” e “Despacho From Hell” à novidades como “Se Deus é 10, Satanás É 666!” e a impagável “Eu Não Entendi Matrix”, os músicos fizeram o já tradicional arremesso de oferendas, enchendo de farofa toda a tenda (e o público) e saíram ovacionados do palco.

Quando o Ratos começou, o pau comeu. Se a frente do palco durante seus shows não é lugar muito recomendado para não-iniciados, o piso escorregadio por conta da farofa tornou o território ainda menos amigável. Enquanto João Gordo enfileirava os hits como “AIDS, Pop, Repressão”, “Beber Até Morrer”, “Agressão/Repressão” e apresentava as faixas de seu recente “Homem Inimigo do Homem”, lançado pela Deck Disc, toda a galera que se encontrava na Lapa no começo dos anos 90 para rolezinhos de skate ou pra trocar fitas cassete do Agnostic Front e Olho Seco estava ali nas imediações, dando aquela porradinha nos chapas ou uma cotovelada nas costelas daqueles carinhas que nos anos 90 eram babacas, são babacas hoje em dia e provavelmente vão morrer babacas. Prazeres que o pogo dá.

Como sempre, João agradeceu ao apoio da galera carioca e prometeu voltar em breve. Ele mesmo não sabe dizer quantas vezes esteve se apresentando na casa, mas desde que haja mais oportunidades de viver outra noite como essa, isso nem faz lá tanta diferença assim.

Leandro Ravaglia é jornalista, baixista e magrelo, por isso vai no pogo com moderação!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Curumin + Guizado + Festa Makula




Para quem mantém os olhos atentos e os ouvidos abertos, ou vice versa, a música brasileira vai muito bem obrigado. Noites como à do último cinco de setembro no Circo Voador evidenciam o que já parece óbvio: vivemos um momento muito feliz. A música brasileira, popular por excelência e não pela sigla, navega no groove de uma conjuntura onde a tecnologia aliada a um bom senso que há muito não se via dialoga afinadinha com as raízes mais profundas da nossa cultura. Comecei a perceber tudo isso quando cheguei no Circo e os falantes da casa estavam domados pelo Afrobeat da galera da Makula, festa que com certa regularidade agita a naite carioca, não deixe de conferir! Para quem ainda não sabe, Afro-beat é um som desenvolvido pelo famigerado Fela Kuti, músico nigeriano que muito antes de Obama já ostentava o título de Black President. Mas isso é história pra outro papo. Importante é registrar que a noite foi aberta não só com um, mas com os dois pézinhos sapateando bonito no ritmo de Fela.

A Makula dominou a pista, ainda vazia infelizmente, até dez para uma da matina quando o trompetista/produtor/cantor Guizado ocupou o palco com sua trupe: Marcelo Cabral (baixo), Regis Damasceno e Lúcio Maia (guitarras) e (pasmem/bolem!) Curumin na bateria. O show começou e eu comecei a acreditar que seria uma apresentação conjunta de Guizado com Curumim. E foi mais ou menos assim. Eu explico. Curumin foi o baterista no show do Guizado (dividindo a responssa rítmica com os beats eletrônicos). Essa foi a segunda oportunidade de Gui Mendonça (o Guizado) trazer um pouco do seu disco de estréia (Punx) para o Rio de Janeiro. O som tem tonalidades lisérgicas bem fortes, é uma grande viagem!, com intervenções cortantes do trompete, beat e bateria marcando firme e fraseados de guitarra com tom descompromissado (foi positivamente interessante assistir Lúcio Maria “jogando para o time”, atuando de maneira ainda brilhante, porém mais discreta do que de costume). O show contou ainda com a participação de Felipe S. encarnando uma versão meio rappeada de Discurso democrático, clássico de sua banda Mombojó.

Mudança de cenário. Saem todos os músicos menos Curumin, que permaneceu na bateria, assumiu também o microfone e recebeu seus dois parceiros, o baixista Lucas Martins e o percussionista digital Loco Sosa. O JapaPaulista abriu a apresentação com Mal estar Card e seu inconfundível som de cavaquinho disparado de uma máquina de sampler. Na sequência Samba Japa e Compacto, música que na sutileza promoveu um dos momentos mais bonitos da noite, com todo mundo cantando junto e batendo palminha no tempo da música. Energia total! Coisa bonita mesmo, sabe? Para manter a sintonia na beleza Curumin sacou Cangote, faixa do disco novo da cantora paulistana Céu, surpreendendo e arrepiando a platéia. “Cantei porque essa música é muito boa”, justificou. Tá certo!

Durante o show ficou claro como Curumin gosta do que faz. O palco funciona como meio de troca com a platéia em uma dinâmica de subversão total do papel clássico do baterista (calado e à sombra dos front-men). Curumin toca bateria, cavaquinho, MPC, canta e interage com a platéia com a simpatia e habilidade de um verdadeiro MC. Ou seja, como se não bastasse fazer música da boa o cara ainda é sangue bom pra caramba! Gente fina e corajoso. Todos os sons foram levados ao palco em novas versões, recheadas de muitos ecos e a confirmação que Curumin, além do Sambalanço mais presente no primeiro disco, está cada vez mais se rendendo ao Dub e ao Afrobeat.

Kyoto, um dos sons mais contundentes da noite, questionou o furor anti-ecológico da sociedade de consumo: “This Babylon dance will murder us”, sentenciou Curumin antes da música ser concluída com uma rajada disparada pela MPC. O conceito do álbum foi relembrado em Japa pop show e Sambito foi ironicamente transformada num reggae lentinho e gostoso de dançar juntinho (com direito a citação de Extraphunk, do Black Alien). Foi ai que Curumin pulou da batera (que passou a ser ocupada por Loco Sosa) e sacou seu cavaquinho para tocar Guerreiro, com direito à citação da letra: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão” em homenagem a Dicró, “que eu vi hoje cantando e vendendo CD´s pelas ruas do Rio”, explicou. O clima festivo continuou em alta com Magrela fever, que carregou a platéia com seu refrão empolgante.

Lucas Santtana foi convidado para subir ao palco e cantar o seu “pretinho legal”. Subiu, ficou e lá do alto pode assistir uma homenagem a Michael Jackson, em uma versão inusitada, lentinha e simpática de Beat it. Guizado também é convocado e contribuiu com seu trompete para que Caixa Preta transformasse o Circo num Baile Funk dos bons (senti falta da presença de B Negão, que participa na música no disco). E a sequência final foi matadora com: Tudo bem malandro e Cadê o mocotó, nocaute! Público rendido, caído nas graças do samba japonês mais brasileiro que São Paulo poderia produzir. É de pirar a cabeça, ou não é? No bis Ministério stereo (com direito a citação de Réu Confesso, Tim Maia) e uma última provocação: “essa é lentinha, pra todo mundo voltar pra cama flutuando e de preferência bem acompanhado”. Fechamento perfeito para uma noite maravilhosa, onde todos os sons foram escutados com beleza e graça, graças também aos técnicos e ao equipamento que promovem o som bonito e límpido do Circo Voador.

João Xavi
fez o texto, as fotos e se acabou de dançar nessa noite