terça-feira, 18 de agosto de 2009

3 na Massa

Advertência: a pergunta a seguir não é início de uma piada. Quantas pessoas são precisas para transformar um Circo em Cabaré? Começando a contagem, quatro cabras: Rica Amabis, Dengue, Pupilo e Boca. E cinco damas: Thalma de Freitas, Céu, Lurdez da Luz, Marina de la Riva e Karine Carvalho.

Conclusão, nove indivíduos se articularam para a realização desta tarefa. E a magia aconteceu. Para quem ainda não se ligou, estes nomes dizem respeito aos responsáveis por levar o disco “Na confraria das sedutoras”, do projeto 3 na Massa, para os palcos mundo a fora. Entre vôos por São Paulo e Recife esse time da pesada aterrissou no Circo Voador na noite de 8 de agosto e fez do Circo um verdadeiro Cabaré, que, na definição do Dicionário da Academia Brasileira de Letras é: Casa de diversão noturna, onde se bebe, se dança e se assiste a espetáculos ligeiros.

Um show para se comer com os olhos

Entre o Circo e o Cabaré existe algo em comum, os dois são espaços construídos para o entretenimento. Voltando ao dicionário, entreter é: “Prender a atenção de”. E a tomada de atenção do público foi o que aconteceu desde o primeiro acorde disparado pela banda de abertura, o Dois em Um, formado pelo casal Luisão Pereira (baiano, ex-guitarrista da banda Penélope) e Fernanda Monteiro (carioca e violoncelista). O som da dupla é low-fi, com Fernanda empunhando o violoncelo e cantando baixinho em cima de bases pré-programadas e crescentes intervenções da guitarra de Luisão. Os dois tocam sentados, comportados e o público entrou na onda da dupla. Assistiu, viajou nas texturas produzidas pela fusão guitarra+violoncelo+base eletrônica+voz sussurrante e aplaudiu com fé no final de cada canção.

A noite iniciou bem. Mas o espetáculo (Dicionário novamente: “Qualquer imagem que impressione ou atraia o olhar”) começou mesmo a pegar fogo quando o vídeo da atriz Leandra Leal usando espartilho, corpete e portando um perigoso chicotinho foi projetada nos fundos do palco do Circo (http://www.youtube.com/watch?v=tk9tGLZX2jY). “Eu tenho a imaginação fértil e gosto de agradar”, sentenciou a loira em português e francês. Abrindo alas no palco e sentidos na platéia para a entrada da primeira cantora da noite, Thalma de Freitas. Também atriz, Thalma domina o palco, joga com o corpo e com maestria introduz o clima sensual (“Relativo aos sentidos”) que percorre por toda noite. A deusa de ébano sede espaço para Céu que, diferente da antecessora, atua quietinha e do centro do palco, só com a voz apimentada consegue manter o clima e os olhares.

A dinâmica platéia/palco permanece de contemplação, até o momento que Lurdez da Luz (dona de um dos microfones do Mamelo Sound Sistem) trás o saculejo das ruas de São Paulo, com tempero da origem baiana, ao palco. O povo não consegue só contemplar, o corpo pede movimento, e daí em diante os rebolados começaram a ser mais constante por área da lona do Circo Cabaré Voador.

A noite prossegue, o vídeo de “Pecadora” (http://www.youtube.com/watch?v=BU-p4PS6kZY), com narração de Simone Spoladore, acende o telão e logo em seguida entra Marina de La Riva, carioca criada no interior de São Paulo, não gravou no disco, mas usa de sua voz potente e técnica vocal consciente para domar nossos ouvidos com laço de veludo. Para começar a fechar a tampa, ufa!, Karine Carvalho (a quem caberia facilmente o título de “pequena notável”) sobe ao palco para entoar o hit “Tatuí”. Nocaute!

Queixos caídos por todos os lados, pêlos ouriçados e a certeza que espetáculos como este somado a lua cheia, mesmo que artificial, inspiram noites de amor que só mesmo a versão de “Quero ter você perto de mim” do Rei Roberto pode narrar.


João Xavi é rapper gente boa, escreveu e fez as fotos que ilustram este artigo. A primeira é do grupo Dois em Um, e a segunda é Marina de La Riva no palco do 3 na Massa.


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