quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Curumin + Guizado + Festa Makula




Para quem mantém os olhos atentos e os ouvidos abertos, ou vice versa, a música brasileira vai muito bem obrigado. Noites como à do último cinco de setembro no Circo Voador evidenciam o que já parece óbvio: vivemos um momento muito feliz. A música brasileira, popular por excelência e não pela sigla, navega no groove de uma conjuntura onde a tecnologia aliada a um bom senso que há muito não se via dialoga afinadinha com as raízes mais profundas da nossa cultura. Comecei a perceber tudo isso quando cheguei no Circo e os falantes da casa estavam domados pelo Afrobeat da galera da Makula, festa que com certa regularidade agita a naite carioca, não deixe de conferir! Para quem ainda não sabe, Afro-beat é um som desenvolvido pelo famigerado Fela Kuti, músico nigeriano que muito antes de Obama já ostentava o título de Black President. Mas isso é história pra outro papo. Importante é registrar que a noite foi aberta não só com um, mas com os dois pézinhos sapateando bonito no ritmo de Fela.

A Makula dominou a pista, ainda vazia infelizmente, até dez para uma da matina quando o trompetista/produtor/cantor Guizado ocupou o palco com sua trupe: Marcelo Cabral (baixo), Regis Damasceno e Lúcio Maia (guitarras) e (pasmem/bolem!) Curumin na bateria. O show começou e eu comecei a acreditar que seria uma apresentação conjunta de Guizado com Curumim. E foi mais ou menos assim. Eu explico. Curumin foi o baterista no show do Guizado (dividindo a responssa rítmica com os beats eletrônicos). Essa foi a segunda oportunidade de Gui Mendonça (o Guizado) trazer um pouco do seu disco de estréia (Punx) para o Rio de Janeiro. O som tem tonalidades lisérgicas bem fortes, é uma grande viagem!, com intervenções cortantes do trompete, beat e bateria marcando firme e fraseados de guitarra com tom descompromissado (foi positivamente interessante assistir Lúcio Maria “jogando para o time”, atuando de maneira ainda brilhante, porém mais discreta do que de costume). O show contou ainda com a participação de Felipe S. encarnando uma versão meio rappeada de Discurso democrático, clássico de sua banda Mombojó.

Mudança de cenário. Saem todos os músicos menos Curumin, que permaneceu na bateria, assumiu também o microfone e recebeu seus dois parceiros, o baixista Lucas Martins e o percussionista digital Loco Sosa. O JapaPaulista abriu a apresentação com Mal estar Card e seu inconfundível som de cavaquinho disparado de uma máquina de sampler. Na sequência Samba Japa e Compacto, música que na sutileza promoveu um dos momentos mais bonitos da noite, com todo mundo cantando junto e batendo palminha no tempo da música. Energia total! Coisa bonita mesmo, sabe? Para manter a sintonia na beleza Curumin sacou Cangote, faixa do disco novo da cantora paulistana Céu, surpreendendo e arrepiando a platéia. “Cantei porque essa música é muito boa”, justificou. Tá certo!

Durante o show ficou claro como Curumin gosta do que faz. O palco funciona como meio de troca com a platéia em uma dinâmica de subversão total do papel clássico do baterista (calado e à sombra dos front-men). Curumin toca bateria, cavaquinho, MPC, canta e interage com a platéia com a simpatia e habilidade de um verdadeiro MC. Ou seja, como se não bastasse fazer música da boa o cara ainda é sangue bom pra caramba! Gente fina e corajoso. Todos os sons foram levados ao palco em novas versões, recheadas de muitos ecos e a confirmação que Curumin, além do Sambalanço mais presente no primeiro disco, está cada vez mais se rendendo ao Dub e ao Afrobeat.

Kyoto, um dos sons mais contundentes da noite, questionou o furor anti-ecológico da sociedade de consumo: “This Babylon dance will murder us”, sentenciou Curumin antes da música ser concluída com uma rajada disparada pela MPC. O conceito do álbum foi relembrado em Japa pop show e Sambito foi ironicamente transformada num reggae lentinho e gostoso de dançar juntinho (com direito a citação de Extraphunk, do Black Alien). Foi ai que Curumin pulou da batera (que passou a ser ocupada por Loco Sosa) e sacou seu cavaquinho para tocar Guerreiro, com direito à citação da letra: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão” em homenagem a Dicró, “que eu vi hoje cantando e vendendo CD´s pelas ruas do Rio”, explicou. O clima festivo continuou em alta com Magrela fever, que carregou a platéia com seu refrão empolgante.

Lucas Santtana foi convidado para subir ao palco e cantar o seu “pretinho legal”. Subiu, ficou e lá do alto pode assistir uma homenagem a Michael Jackson, em uma versão inusitada, lentinha e simpática de Beat it. Guizado também é convocado e contribuiu com seu trompete para que Caixa Preta transformasse o Circo num Baile Funk dos bons (senti falta da presença de B Negão, que participa na música no disco). E a sequência final foi matadora com: Tudo bem malandro e Cadê o mocotó, nocaute! Público rendido, caído nas graças do samba japonês mais brasileiro que São Paulo poderia produzir. É de pirar a cabeça, ou não é? No bis Ministério stereo (com direito a citação de Réu Confesso, Tim Maia) e uma última provocação: “essa é lentinha, pra todo mundo voltar pra cama flutuando e de preferência bem acompanhado”. Fechamento perfeito para uma noite maravilhosa, onde todos os sons foram escutados com beleza e graça, graças também aos técnicos e ao equipamento que promovem o som bonito e límpido do Circo Voador.

João Xavi
fez o texto, as fotos e se acabou de dançar nessa noite

Um comentário:

  1. de fato o show foi muito bom, tanto o curumin, quanto o público estavam em ótima sintonia, a noite valeu muito a pena, até a próxima

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