sábado, 3 de maio de 2008

"Mais alto, mais alto!"

O rock brasileiro morreu. Quem jogou a pá de cal foi o estado de Pernambuco, há anos na vanguarda do que de melhor se produz na música brasileira, que viveu por anos amarrada ao eixo Rio-São Paulo e suas releituras das releituras das releituras...

Com a projeção obtida com o movimento mangue bit, as bandas do estado puderam mostrar que o Brasil pode fazer uma música que seja dançante, inventiva, genuinamente brasileira e ainda sim seja rock, mas que seja rock também e não rock e só
.
Foi isso que sobrou no Circo Voador no dia 3 de Maio de 2008, no encontro de China (ex-Sheik Tosado) e sua H-Stern Band e Mombojó. Literalmente dividindo o palco, os dois deram uma amostra de que a música lá de cima deixou o sudeste pra trás faz tempo, absorvendo influências que vão do jazz ao metal com a pitada de ginga que o resto do país ainda não conseguiu colocar na mistura.

China abriu os trabalhos com sua música dançante e uma movimentação incansável de palco. Apresentando as canções de seu segundo disco solo, “Simulacro” (produzido pelo “zumbi” Pupillo), o ex-vocalista do Sheik Tosado passeou pelas influências da sua antiga banda vitaminadas com muita Jovem Guarda, bossa e um samba que era um misto de homenagem e deboche. Além das autorais “Um dia lindo de morrer” e “Sem paz”, ainda entraram no repertório “Samba e amor”, de Chico Buarque, e “Você não serve pra mim”, de Roberto Carlos. Aos gritos de "mais alto, mais alto" incendiou a lona, preparando a galera pro que ainda estava por vir.

Emendando um show no outro sem deixar a galera descansar, o Mombojó entrou ainda com China no palco. A resposta do público a cada início de música fazia parecer que era uma banda carioca que estava ali. Acompanhada pela platéia por todo o show, eles trouxeram o repertório de “Nadadenovo” (gravado com recursos vindos das leis de incentivo do estado de Pernambuco) e “Homem-espuma” (já pela gravadora Trama), ambos elogiadíssimos pela imprensa e sucesso entre o público indie de todo o Brasil.

No final, o hit “Deixe-se acreditar” transformou o Circo no verdadeiro “reino da alegria” e mostrou que é possível conquistar um público fiel que vai a shows e compra discos (ou baixa, vá lá) mesmo longe das rádios e programas de domingo. Saí do Circo no sábado com a certeza de que é hora de inverter a mão da cultura nacional e começar a beber na água do nordeste a inspiração para um novo rock Brasil. Lá eles já descobriram o caminho e foram embora. Se demorar, a gente não alcança nunca mais.

Leandro Ravaglia

Evento ocorrido no sábado, 03 de maio de 2008.

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